As calhas, como o próprio nome diz, são elementos de canalização instalados ao longo dos beirais de telhados e varandas e possuem a função de coletar a água da chuva que escorre na superfície da cobertura e direcioná-la aos devidos condutores. Independentemente do seu material, que pode ser alumínio, PVC, concreto, aço galvanizado, entre outros, seu dimensionamento é fundamental pois, dependendo do clima onde o projeto está inserido, os prejuízos causados por sua aplicação incorreta podem ser consideráveis.
A água da chuva não direcionada para o local correto pode transbordar para as laterais. Esse excesso de água nas paredes pode gerar mofo e infiltrações e a água acumulada na base da construção também pode levar à erosão do solo. Além disso, esse sistema apresenta uma solução prática e sustentável para armazenar a água da chuva e viabilizar o seu uso para diversas atividades.
A seguir, apresentaremos um roteiro básico para pré-dimensionar as calhas em diferentes projetos.
Determine a intensidade das chuvas
Para dimensionar as calhas, o primeiro passo é entender geograficamente onde o projeto está inserido, pois as condições climáticas e geológicas são fundamentais para definir a intensidade pluviométrica (mm/h) que incidirá sobre a edificação. Este valor estará disponível nas Cartas Pluviométricas de cada região, entretanto, vale ressaltar que alguns profissionais têm afirmado que a maioria das bibliografias existentes estão defasadas tendo em vista a considerável mudança climática que estamos enfrentando e a consequente alteração do regime pluvial das regiões. Por isso, é importante estar atento e consultar as Cartas Pluviométricas mais atualizadas. Para o território brasileiro, alguns autores indicam a utilização de 0,067 litros por segundo por metro quadrado como um número seguro.
Segundo a norma NBR 10844, as calhas devem ter capacidade para escoar a água da chuva com intensidade correspondente a 5 anos de período de retorno (chuva que tem a probabilidade de ocorrer 1 vez a cada 5 anos) sobre a área de contribuição de um telhado. Entretanto, a norma divide esse período em três níveis de risco, segundo as características da área a ser drenada:
- 1 ano, para áreas pavimentadas, tais como circulação, calçadas, áreas abertas etc., ou seja, onde empoçamentos possam ser tolerados;
- 5 anos, para coberturas e/ou terraços;
- 25 anos, para áreas e coberturas onde empoçamento ou extravasamento não são tolerados.
Identifique os pontos de descida
Os pontos de descida são os orifícios presentes nas calhas que direcionam a água captada para a tubulação até a chegada do esgoto de águas pluviais ou outros sistemas de armazenamento. Os pontos de descida devem ser livres de interferências, como janelas, portas etc., e sua determinação é importante pois eles delimitam os comprimentos das calhas. Quando se trata de lugares próximos a vegetações densas e também em regiões com prédios altos onde é comum o vento carregar embalagens plásticas e outros objetos leves é importante considerar um condutor vertical a mais, prevendo que poderão ocorrer entupimentos ocasionais em algum deles.
Calcule a área de contribuição
A área de contribuição é basicamente a área do telhado responsável pela captação da água da chuva que escorrerá até a calha a ser dimensionada. Quanto maior for essa área, mais água será captada e as calhas deverão ser consequentemente maiores. Vale ressaltar aqui que a NBR 10844 distingue tanto as dimensões do telhado quanto sua inclinação ou a existência de paredes nas suas extremidades.
Esse valor é necessário para que consigamos chegar ao cálculo da vazão do projeto, que se dá por meio da fórmula:
Q= I.A/60
Onde:
Q= vazão do projeto (l/min)
I= intensidade pluviométrica (mm/h) – indicado nas tabelas e cartas pluviométricas
A= área de contribuição (m²)
Dimensione a calha
Existem diversas calhas com materiais e modelos diferentes e sua escolha é feita em função das características arquitetônicas da edificação. Contudo, destaque-se que a capacidade de vazão das calhas está diretamente relacionada à forma de sua seção transversal que pode ser retangular, em semicírculo, entre outras.
A norma NBR 10844 apresenta uma tabela considerando algumas medidas padrão de calhas e adotando um caimento de 2% (sendo o mínimo tolerado de 0,5%). A calha escolhida deve possuir as dimensões suficientes para dar vazão ao volume de água da chuva calculado anteriormente de acordo com o tamanho e formato do telhado. Para outras dimensões de calhas a fórmula de Manning-Strickler deverá ser aplicada. Vale ressaltar ainda que a norma também indica a possibilidade de variações recorrentes do coeficiente de rugosidade dado pelo material escolhido para a calha.
Q= K.S/n.Rh²³.i¹²
Onde:
Q= vazão do projeto (l/min)
S= área da seção molhada, em m²
n= coeficiente de rugosidade – indicado na tabela
R= raio hidráulico (m)
PH= P/S perímetro molhado (m)
i= declividade da calha (m/m)
K= 60.000
Para mais informações acesse a NBR 10844.